A imprensa binária e o Anarquismo

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Por Calango_Negro:

Olá comunidade Anarquista,

/*Arquivo: AImprensaBinariaEoAnarquismo.an
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* Condição Prévia: Falta de estrutura histórica sobre a opressão anarquista através da mídia.
*Condição Posterior: Essa safadeza acontece faz tempo. Se for por falta de sacanagem, ta na hora de sacanear!
*/

import revolution.an*;

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LutarJuntos ();
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# Aqui o estado e o capitalismo cai. Tem vermelho não irmão!

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Olá Colegas, vamos hoje tentar entender algumas relações e impactos do uso da mídia na história anarquista.

O primeiro documento de imprensa relacionado a Anarquismo advém do jornal o Correio Paulistano que em 1893 atesta a seus leitores, com o título “Imigrantes Anarquistas” que durou entre Julho e Agosto deste ano com as seguintes colocações “não só proporcionar aos nosso leitores o conhecimento de coisas dignas de notas e ainda ignoradas, como também perstar um serviço à São Paulo, concorrendo para a censura e verberação de fatos, que se podem tornar atentórios a ordem pública” (trecho tirado de Loprete, 1996).

Só caros colegas dá se início a ordem persecutória já secular em terras pindoramesticas de nossa luta, sem mesmo dar-se o trabalho de entender quem somos e por que viemos. Mas é óbvio não para por ai, neste mesmo jornal, como disse de Julho a Agosto, mais há por vir.

Na primeira delas como escreve Loprete em sua tese ela continua sobre os ataques perpetrados pelo Correior Paulistano “…perigosos individuos, chefes e partidários dessa terrível seita destruidora”, que para cá vieram “uns por voto espontâneo, em busca de novos campos de ação, outros por expressa exigência da policia e outros ainda para fugirem a vindita dos seus camaradas, quando descobertas as suas traições e ainda neste caso, favorecidos por autoridades no exercício de seus cargos, têm buscado penetrar nesta grande e hospitaleira terra, que se chama o Estado de São Paulo, usufruindo as vantagens que os nossos cofres públicos lhes dão, tais como o transporte gratuito das suas pessoas e bagagens e o seu primeiro estabelecimento na capital, até que lhes apareçam às ambicionadas colocações, para no fim de contas virem aqui implantar a desordem e uma luta fraticida, incompatíveis com abundância e excelência dos nossos recursos de vida” (Loprete, 1996).

De cara a hospitalidade brasileira e paulista(na) já se mostram bem receptíveis a causa anarquista, como podemos ver no texto. É claro que Anarquistas estavam aqui a mais tempo, ainda na época de D. Pedro II. Todavia o anarquismo ainda não havia vindo como um movimento de luta operária afim de se instalar na industrias (Paulistas), e por tanto, até mesmo o próprio imperador havia financiado uma ventura anarquista em Cecília no Paraná e outra no Rio de Janeiro que mais tarde foi para Santa Catarina.  Estes, diferente destes imigrantes citados acima, vinham aqui a procura de terra e de formar suas comunidades anarquistas. Mas quando estes se instalam na capital industrial do país, todos sabiam que a reevindicação de melhorias trabalhistas, ainda incipiente em solo pindoramesco, iria se iniciar. Eram muitos agitadores para que a policia desse cabo e o Estado teria um inimigo a altura no seu papel de doutrinação e apaziguamento da população, especialmente depois de anos de conflitos internos grandes. Parecia que as coisas iam “entrar nos eixos” e eis que vem os anarquistas para tirar o povo e especialmente os imigrantes, que vieram substituir a mão de obra escravocrata aqui, se rebelar contra o sistema. Um convite doce a luta e nefasto para as elites.

Lopreato ainda continua em diversas passagens onde tais imigrantes eram vistos (além do preconceito geral a estes) como criminosos, de má fama e perigosos (qualquer coincidência, não é mera coincidência). Muito antes da greve de 1917, tentativas de criminalizar o movimento e desqualifica-lo vieram. Mas como força vingente da causa operária os mesmos ganharam força em seus rincões de luta que se escalonaram até a chegada da grande greve de 1917.

Não por mera coincidência neste mesmo ano das reportagens do Correio Paulistano quase 4000 pessoas foram presas, das quais aproximadamente 2000 foram consideradas anarquistas e socialistas. Me parece que de fato um coluio foi realizado em entre estado – midia de direita para a repressão massiva do movimento anarquista em solo paulista. É difícil chegar a outra conclusão dentro de números tão alarmantes onde reportagem e ação datam da mesma época.

Para deixar claro os seus crimes eram reuniões abertas (provavelmente com infiltrados) no prédio n. 110 da rua Badaró que de acordo com a policia, “visavam a disseminação e o desenvolvimento da tenebrosa doutrina em meio a sociedade paulista. Obrigando-o a vigiar de perto os individuos denunciados como adeptos extremados da perigosa seita (satânica).” E por diversas vezes durante este período se vê o termo anarquismo sendo associado a palavra seita. Obviamente em um meio onde um pensamento que não se intitula em nenhum lado da moeda, mas do povo só poderia ser algo que ia de encontro ao dualismo (bem-mal, direita-esquerda, homem-mulher etc) cristão instalado em nossa sociedade. Algo que a elite, em sua construção de observação dentro do pensamento cartesiano, não só não compreendiam, mas detestavam (até pela luta pelo fim de tais benefícios gozados pelos mesmos). Algo devia ser feito. Eles deveriam ser eliminados a força. Não obstante, parece que tais atos deram mais força ao movimento nessa época. As repressões e divulgações da mídia, com seu caráter elitista ganham voz em seu meio, mas em uma sociedade com um alto indíce de anafalbetismo estes não falavam a língua do povo (assim parece), e os anarquistas com suas teorias de luta pela emancipação do povo e pela liberdade destas instituições ganhavam cada vez mais força em meio aqueles que eram vitimas de seus algozes. Mesmo entre aqueles que não vieram do além mar.

Apesar desses percalços iniciais, muitos viram no anarquismo algo que não teria voz, ou não teria nenhum tipo de desenvolvimento em aqui no Brasil. Atestavam as querelas e reenvidicações como algo banal ou mesmo típico de países desenvolvidos da época e que não teriam espaço aqui (um país pobre e em “desenvolvimento”) e rapidamente iria se acabar. Mas a planta exótica germinou aqui e duas correntes foram as que mais ganharam força nessa época, o anarco-comunismo e o anarco-sindicalismo.

O anarco-comunismo começou a disseminação de sua luta através de um jornal em língua italiana chamado Il Risveglio editado por Luigi Damiani e mais tarde pelo La Battaglia que participavam Luigi Damiani, Alessandro Cerchiai, Angelo Bandoni e Florentino de Carvalho, que foram também os nomes mais reconhecidos e recorrentes dessa época do anarco-comunismo em São Paulo. Já o anarco-sindicalismo teve seu jornal também, com grande adesão e até organização de federação sindicalista anarquista (a FOSP) teve seus jornais O Amigo do Povo, Edgard Leuenroth, Neno Vasco, José Sarmento Marques, Giulio Sorelli outros nomes reconhecidos pela sua luta através do anarco-sindicalismo.

Parece que o últmo encontrava na população em geral força para a militância enquanto o primeiro focava seus esforços na comunidade italiana das fábricas, que de certo modo a principio era o maior número de anarquistas aqui. Essas duas forças do anarquismo reenvidicavam pautas anarquistas e promoviam diversos atos e orientações para os trabalhadores em São Paulo, atentando para o bem estar burguês da época, já em inicio do século XX. Aqui começava agora um período de guerra midíatica marginal contra mainstream, onde os grupos eram por diversas vezes acusados e taxados enquanto os jornais anarquistas faziam frente a manipulação em meio aos seus e conquistando adeptos. Fico na dúvida sobre certas declarações aqui de que isso não vingaria em solo brasileiro. De certo havina gente que via no Anarquismo um risco real. Enfim…

Altamente difundido em seus joranais estavam a ação direta, que tinham como pilares, a sabotagem, a greve e o boicote as instituições capitalistas. Ações conjuntas eram realizadas e cresciam as forças das ações que realizavam os anarquistas da época. No entanto não deixaram de haver divergências quanto a utilização do método e as interpretações dessas correntes em relação uma a outra. Diversos artigos davam pitacos em relação ao outro (Anarco-comunismo x Anarco-sindicalismo) e parece que a velha briga de vertentes anarquistas aporta aqui e perdura até os dias atuais. Os anarco-sindicalistas eram apontados como reformistas, enquanto os anarco-comunistas como longe da realidade da luta. Mas apesar de eventuais farpas existentes entre os dois grupos, estes se uniam em causas em comum e participavam das lutas que engendravam um ou outro. O ambiente era anarquista e a luta também. As divergências podiam existir, mas reconheciam um no outro a força pela luta anarquista e por vezes participavam de atos em conjunto, em especial no inicio do século XX, antes de ter dada inicio  (a partir de 1905) a quase que mensal, boicote e eventuais greves a demandas burguesas sobre o assalariado anarquista. Escalonando até a famosa greve de 1917.

Isso se deu pois a CGT Francesa, lançou a ideia da greve geral e mesmo com a morte de Pelloutier e Girard (idealizadores e propagandistas da ideia) essa ideia não morreu. Podemos ver que era através dos períodicos que a comunidade Anarquista se comunicava, ou comunicava suas ideias. E aqui no Brasil o movimento operário Francês foi muito influente e a ideia de um greve geral foi debatida na primeira COB (Congeresso Operário Brasileiro,  no RJ 1906). E ganhou forças pelos anos seguintes. A ponto de mesmo em divergências os grupos anarquistas se unirem para tal empreitada.

Os empresários industriais da época que vinha em nossas terras, uma harmonia entre proletariado em explorador (subserviência voluntária, ancapismo descarado, me desculpe saiu sem querer, rs), viam no movimento anarquista um disseminador de “mentiras” em seus meios e subelevação da rebeldia operária, o que obviamente era custoso para seus bolsos.

Pois bem era dada a corrida pela jornada de 8 horas de trabalho. Na França eles só conseguiram o descanso semanal, porém em diversos lugares foi adotada a luta pelas oito horas de trabalho diário. Aqui diversas greves deflagaram, até que não só operário, mas diversas camadas da sociedade pararam e aderiram a greve idealizada na segunda COB.

A repressão foi imediata e feral. Os jornais de São Paulo repetiam o discurso burguês, a policia baixou uma repressão ainda não vista até então. Encarcerou diversas pessoas que participavam e já eram alvos da policia.

Esse mesmo movimento de 1917 influenciou a marcha ao pálacio do catete no Rio de Janeiro no ano seguinte que culminou na lei Adolpho Gordo que permitia a expulsão de estrangeiros (há casos emblemáticos aqui onde a pessoa expulsa foi literalmente jogada em alto mar, assim dizem alguns relatos da época). E diversas regiões nos anos seguintes A administração seguinte de Arhur Bernardes coincide com o desaparecimento da pauta de da greve geral e a criação da colônia penal de Clevelândia do Norte (também conhecido como inferno verde), onde diversos anarquistas foram enviados para lá. Há uma estimativa que a mortalidade era de 50%. Este complexo era localizado no norte do estado do Amapá. Local com difícil acesso em meio a Floresta Amazônica.

Para contemplar no mesmo ano de 1917 e dada a queda do czarismo e as forças comunistas-marxistas através dos bolcheviques tomam o poder do estado russo. Coincidentemente com o mesmo ano que se comemora os 100 anos da greve geral anarquista aqui. Não demorou (para a época é claro) que a notícia chegasse aqui. E em 1922 é fundado o PCB por ex anarquistas como, João da Costa Pimenta, José Elias da Silva e Astrojildo Pereira que iludidos pela versão esquerdista da luta proletariada adotaram o Marxismo como bandeira e outros simpatizantes da causa operária que seguiram o mesmo caminho.

A meu ver, no intuito de quererem fortalecer a causa operária se distaciaram das reinvindicações do povo e foram para a organização estatal afim de conseguir apoio para a causa trabalhista, vendo nos bolcheviques uma forma de financiar suas venturas. Um erro cabal para todo anarquista, já preconizado por Bakhunin em suas falas nas internacionais, mas mesmo assim a propaganda da tomada de um estado pelas forças vermelhas tiveram efeito sem dúvida e conseguiram abocanhar alguns de nossos companheiros.

Podemos ver claramente que a repressão estatal perpetrada e com datas coincidentes fez com que diversos dos nossos entrassem no jogo de estado desistindo de sua luta pela emancipação do trabalhador. Agora, igualmente agentes da repressão, seguiram para suas formas de luta.

Um episódio curioso é o do militante Anarquista Domingos Passos que conseguiu escapar do inferno verde. De acordo com relatos uma das primeiras coisas que fez ao conseguir escapar e chegar em uma cidade foi tentar refúgio em uma das sedes do Partido Comunista do Pará (que na verdade nada mais era que uma residência de uma partidário, sem nomes até aqui) e este lhe foi negada, assim que descoberta sua identidade politica. Este mesmo lutou contra frentes do PCB e de integralistas lhe dando a alcunha de Bakhunin brasileiro.

Parece que desse ponto em diante, apesar de algumas alianças, não houve muita simpatia por conta dos Partidários do PCB aos companheiros socialistas libertários. Por hoje ainda podemos ver diversos artigos rechaçando o anarquismo em ambos os lados da moeda. A esquerda e a direita. Não muito tempo atrás o PSTU lançou uma explicação sobre o Anarquismo se “debruçando” sobre o movimento e suas teorias em um texto com um pouco menos de 700 palavras (sim toda a teoria anarquista está lá, é só acessar e saberá TODA A TEORIA ANARQUISTA JÁ ESCRITA NO MUNDO), sob o título de “As velhas novidades anarquistas” (https://www.pstu.org.br/as-velhas-novidades-anarquistas/). E por lá há diversos outros artigos relacionados ao tema.

Atualmente 05/11, me debruço sobre a reportagem que saiu em midia de alta veiculação no dia 29/10 sobre o anarquismo. Claramente com valores de direita, e manipulação de falas e fatos sobre a prisão de jovens que estavam atuando pelo anarquismo. Vimos nas declarações paralelos com aquelas vistas lá em cima nos primeiros artigos relacionados ao anarquismo, inclusive com a clara citação de estrangeiros perigosos que estavam atuando junto a brasileiros sob uma ideologia perigosa e criminosa. De acordo com a chamada “Fantástico mostra que quando a ideologia ultrapassa o direito dos outros, ela ultrapassa o limite da lei”, engraçado como essa chamada poderia ser “Quando o estado ultrapassa os limites do ser, fique queito e engula, por que é lei”.

Depois de toda essa reflexão o que o calango negro tirou como conclusão;

O trabalho com a mídia e propaganda é de extrema importância para o nosso movimento. Foi a partir dela que fomos capazes de trocar ideias a nível global e nos organizar a nível regional a ponto a colocar em risco real as instituições quiriarcais da época, sem os períodicos, constantemente desconstruindo o ideal capitalista liberal da época, nossa voz não era ouvida. No momento que estes pararam e a COB foi praticamente desmantelada pelo Governo de Arthur Bernardes, os pelegos tomaram conta e o governo achando que tinha se livrado do problema viu outro em suas mãos, ineficaz de causar e impactar como foi o movimento anarquista aqui.

Dentro deste racicínio ainda o calango negro identifica duas formas de luta contra o anarquismo na mídia; a perpetrada pela esquerda em forma de cooptação de seus militantes, ao ponto de existirem hoje em dia “organizações anarquistas” que fazem acordo com partidos de esquerda e rezam na cartilha do Marxismo, sendo usados como uma espécie de muro ou filtro de neófitos para a causa quiriarcal estatal marxista, por vezes infantilizando a causa anarquista e nossas teorias (e infelizmente tendo voz interna). E do outro lado, na direita a tentativa da marginalização do movimento para que ela não alcance voz dentro da classe trabalhadora, realizando atos midíaticos espetáculares (ou “fantásticos!”) para amedontrar a população dessa “seita satânica” chamada anarquismo. Ambos fazendo o jogo politico  binário, onde o trata o povo como gado de abate, achando que este não sabe que escolhendo a esquerda ou a direita o abate será o mesmo.

O anarquismo se posiciona em palavras de uma amiga minha da seguinte forma “Tanto “esquerda” quanto “direita” são termos que descrevem posições autoritárias e a liberdade não tem um relacionamento horizontal com o autoritarismo. Por tanto não há como o anarquismo ser de direita ou esquerda. Ele simplesmente é libertário”.

Então cuidado com a definição alheia a nossa causa. Elxs nos vêem de fora. Quem sabe o que é Anarquismo, é Anarquista meus amigxs!

Abs do calango negro.

 

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